KINDRED SPIRIT © WORLD WIDE WEB

O Museu das Microagressões

Pedro Gomes, "O Museu das Microagressões", 2025

Instalação (pintura com técnica mista sobre tela, 
em suporte de madeira e revestimento de parede), dimensões variáveis.

Pedro Gomes, "O Museu das Microagressões", 2025

Instalação (pintura com técnica mista sobre tela, 
em suporte de madeira e revestimento de parede), dimensões variáveis.

Pedro Gomes, "O Museu das Microagressões", 2025

Instalação (pintura com técnica mista sobre tela, 
em suporte de madeira e revestimento de parede), dimensões variáveis.

Pedro Gomes, "O Museu das Microagressões", 2025

Instalação (pintura com técnica mista sobre tela, 
em suporte de madeira e revestimento de parede), dimensões variáveis.

Pedro Gomes, "O Museu das Microagressões", 2025

Instalação (pintura com técnica mista sobre tela, 
em suporte de madeira e revestimento de parede), dimensões variáveis.

Pedro Gomes, "O Museu das Microagressões", 2025

Instalação (pintura com técnica mista sobre tela, 
em suporte de madeira e revestimento de parede), dimensões variáveis.

Pedro Gomes, "O Museu das Microagressões", 2025

Instalação (pintura com técnica mista sobre tela, 
em suporte de madeira e revestimento de parede), dimensões variáveis.

Pedro Gomes, "O Museu das Microagressões", 2025

Instalação (pintura com técnica mista sobre tela, 
em suporte de madeira e revestimento de parede), dimensões variáveis.

Pedro Gomes, "O Museu das Microagressões", 2025

Instalação (pintura com técnica mista sobre tela, 
em suporte de madeira e revestimento de parede), dimensões variáveis.

Pedro Gomes, "O Museu das Microagressões", 2025

Instalação (pintura com técnica mista sobre tela, 
em suporte de madeira e revestimento de parede), dimensões variáveis.

Pedro Gomes, "O Museu das Microagressões", 2025

Instalação (pintura com técnica mista sobre tela, 
em suporte de madeira e revestimento de parede), dimensões variáveis.

Pedro Gomes, "O Museu das Microagressões", 2025

Instalação (pintura com técnica mista sobre tela, 
em suporte de madeira e revestimento de parede), dimensões variáveis.

Pedro Gomes, "O Museu das Microagressões", 2025

Instalação (pintura com técnica mista sobre tela, 
em suporte de madeira e revestimento de parede), dimensões variáveis.

Pedro Gomes, "O Museu das Microagressões", 2025

Instalação (pintura com técnica mista sobre tela, 
em suporte de madeira e revestimento de parede), dimensões variáveis.

Pedro Gomes, "O Museu das Microagressões", 2025

Instalação (pintura com técnica mista sobre tela, 
em suporte de madeira e revestimento de parede), dimensões variáveis.

Pedro Gomes, "O Museu das Microagressões", 2025

Instalação (pintura com técnica mista sobre tela, 
em suporte de madeira e revestimento de parede), dimensões variáveis.

Pedro Gomes, "O Museu das Microagressões", 2025

Instalação (pintura com técnica mista sobre tela, 
em suporte de madeira e revestimento de parede), dimensões variáveis.

Pedro Gomes, "O Museu das Microagressões", 2025

Instalação (pintura com técnica mista sobre tela, 
em suporte de madeira e revestimento de parede), dimensões variáveis.

Pedro Gomes, "O Museu das Microagressões", 2025

Instalação (pintura com técnica mista sobre tela, 
em suporte de madeira e revestimento de parede), dimensões variáveis.

Pedro Gomes, "O Museu das Microagressões", 2025

Instalação (pintura com técnica mista sobre tela, 
em suporte de madeira e revestimento de parede), dimensões variáveis.

Pedro Gomes, "O Museu das Microagressões", 2025

Instalação (pintura com técnica mista sobre tela, 
em suporte de madeira e revestimento de parede), dimensões variáveis.

Pedro Gomes, "O Museu das Microagressões", 2025

Instalação (pintura com técnica mista sobre tela, 
em suporte de madeira e revestimento de parede), dimensões variáveis.

Pedro Gomes, "O Museu das Microagressões", 2025

Instalação (pintura com técnica mista sobre tela, 
em suporte de madeira e revestimento de parede), dimensões variáveis.

Pedro Gomes

+ Info

O Museu das Microagressões

O Museu das Microagressões(1) é um projecto de Pedro Gomes que cruza a invocação de uma ideia de museu, ou um sistema institucional de apresentação de conteúdos, e o revisitar nostálgico das artes decorativas da década de setenta, do século XX.
Entendendo o museu como um lugar vivo, de interacção e construção cultural da comunidade, Pedro Gomes trabalha sobre a ideia de uma engrenagem que acolhe, opera e valida a expressão da sociedade, ou do colectivo. De forma pessoal, mas não biográfica, o artista homenageia alguns dos dispositivos clássicos de apresentação de exposições (citando os cavaletes de Carlo Scarpa, entre outros), mas, antagonicamente, invoca a cultura popular dos anos setenta e a cultura do bad taste design com o seu vincado elogio ao ornamento, ao excesso e ao artifício. Dir-se-ia que a exaltação da densidade que nessa época se afirmou surge, ainda hoje, como sinónimo de proscrição, falhanço e escusa à lógica do ambiente controlado que a instituição museu tende a decretar.
O entendimento modernista de que o ornamento é crime (como, em 1910, Adolf Loos proclamou(2)) levou a que décadas mais tarde a experimentação, a exuberância, a densidade e o exagero tomassem um papel importante na proposta de uma nova sociedade. Herdando a vontade das transformações do final dos anos 60, a crença em novas comunidades, libertas da ganga constrangedora da norma modernista, nunca chegou, contudo, a plenamente concretizar-se. Esbarrando no contexto económico-social que o conservadorismo dos anos oitenta trouxe, a experimentação formalmente luxuriante, eclética, popular e disruptiva dos anos setenta, viu o seu intento amargamente falhado, conotando-se a experiências tidas como demasiado intensas, decorativas e perturbadoras.
Pedro Gomes, revê esse período e elege o desapontamento de uma mudança gorada. Para o artista, o desencontro de expectativas falhadas surge como motor para um paralelo poético, entre um universo de crença colectiva (o paradigma modernista que ainda hoje rege o entendimento dos espaços de exposição(3)) e o campo individual dos caprichos e das ilusões esbatidas.
Gomes dispõe a pintura, reinventa o suporte, repensa o espaço e transforma o conjunto em obra. Cruzando a expressão do primeiro plano e a leitura de um pano de fundo, as pinturas exaltam um grupo de tecidos e papéis de parede com antigos padrões florais, próprios de um ambiente doméstico votado ao descarte ou abandono. Cintados num campo exíguo por várias camadas de partículas diversas, estes acusam o conflito entre a exuberância da sua natureza e o recorte que lhe é imposto (uma risca vertical). De igual modo, num exercício de conformação e provocação de fronteiras, as telas apoiam-se numa série de placards materializados com sobras de madeiras e restos de pano desperdício, que se tornam complexos e discursivos — ganhando tridimensionalidade pela desarticulação das faces com o que nelas se sustém. Entre toscas armações pintadas e várias forras de desperdício, entre exuberantes papéis de parede, antigas gravatas e velhas toalhas de mesa, estes objectos assumem uma presença vincadamente táctil, entrosando a tela e o suporte, o objecto e o espaço, num todo que nos engole. Numa dramatização de limites que é física, mas também sociocultural, Pedro Gomes perturba o consenso do paradigma modernista com a memória encantada de um tempo já ido.
De novo, saliente-se que o que move o artista não é apenas a ressonância de uma infância passada, senão a leitura de um espírito de época que, curiosamente, numa alegria forçada e fantasiosa, falhou no seu propósito. Inerente à festividade do novo, à intensidade da saturação, à impureza e ao artifício, encontramos ainda a grelha que ordena o padrão. Por mais excessivo que o acontecimento se torne, a repetição que a estrutura subjaz ao excesso epidérmico que ele assume – por isso, a densa folhagem do papel de parede não transforma a sala num jardim paradisíaco.
A crença na revisão do modernismo, que assenta numa liberdade individual de cariz aspiracional, cai com algo que, na raiz, é ilusório. Algo que busca apoio numa teatralização da lógica social, em que a máscara ou o ornamento é apenas epidérmico e postiço, e a estrutura basilar continua a ser regrada. Pedro Gomes interessa-se, sobretudo, pela falência dessa crença e pelo desalento que ainda hoje isso comporta. Por isso, partindo de um olhar que é adulto, numa aproximação Camp(4) a um universo Kitsch, as obras invocam um eco da infância e, simultaneamente, o entendimento de uma análise madura. Um olhar crítico, consciente e nostálgico, sobre o individual e o colectivo, que atesta o desencontro das expectativas acalentadas; não em julgamento, mas em melancólica celebração.

Sérgio Fazenda Rodrigues


(1)  Microagressão é um termo clínico que identifica um tipo de comentário, pergunta e acção subtil, pontual ou quotidiana, premeditada ou não intencional, que demonstra hostilidade, preconceito ou desrespeito perante grupos minoritários, com base em raça, género, orientação sexual ou religião, entre outros. Embora aparentem ser inofensivas, estas ações detêm um impacto psicológico significativo, induzindo ansiedade, depressão e baixa autoestima, quando repetidas cumulativamente.

(2) Ornamento e Crime é um livro escrito pelo arquiteto vienense Adolf Loos que, em 1910, associa o ornamento a uma cultura de desperdício e superficialidade. O livro foi fulcral para o pensamento do movimento moderno, assente numa revisão social que se estruturava no elogia da funcionalidade. O modernismo, apoiado nas ideias de eficácia e pureza, ordem e progresso, alicerçava-se na crença mecânica (ou no elogio da máquina) e no contexto de um novo mundo que à data, assim se cria, urgir traçar.

(3) Repare-se, a título de exemplo, na preponderância do modelo White Cube que ainda agora é tido como garante de qualidade na configuração do espaço expositivo. Repetido ad nauseum, de forma gratuita e inconsistente, este teatro de supostas neutralidades cria um pedestal acrítico, asséptico e atemporal, para a suposta glorificação das obras que acolhe. Hoje, longe da realidade que o ditou, a sua disseminação configura, apenas, uma estratégia comercial conceptualmente acéfala.

(4) Atente-se ao que Susan Sontag refere no seu livro Contra a Interpretação, de 1961, onde aponta o Camp como uma forma esteticizada de ver o mundo, expressa não em termos de beleza, mas sim em termos de grau de artifício. Na verdade, no seu entendimento, o espírito Camp assenta numa seriedade falhada, dada pela mistura densificada de excesso, fantástico, paixão e ingenuidade.

O Museu das Microagressões

25.10 - 27.11.2025

Kindred Spirit

Lisboa, PT

Artista

Pedro Gomes

(PT)

+

Bio

Pedro Gomes (Moçambique, 1972) vive e trabalha em Lisboa.
Pedro Gomes entende e desenvolve o seu trabalho, centrado na área do desenho, como um campo alargado de representação visual e mapeamento da realidade. Partindo de uma análise sobre a escolha e a intervenção das imagens, as suas obras conjugam formas e materiais distintos, em processos de sobreposição, densificação e subtração, num corpo de trabalho que se expande, também, à escultura, e ao vídeo.
Pedro Gomes estudou no Ar.Co. – Centro de Arte e Comunicação Visual, em Lisboa e no Chelsea College of Art (MFA), em Londres.
Expôs em instituições como Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa), Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia MAAT/EDP (Lisboa), Museu Nacional de Arte Contemporânea MNAC (Lisboa), Camden Arts Centre (Londres, U.K.), Museu Extremeno e Iberoamericano de Arte Contemporânea (Badajoz, Espanha)
Museu Arpad Szenes - Vieira da Silva (Lisboa)
O seu trabalho encontra-se representado em várias colecções, como: Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa), CACE - Colecção de Arte Contemporânea do Estado (Lisboa), Colecção António Cachola (Elvas), Fundação MAAT/EDP (Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia, Lisboa), MUDAS - Museu de Arte Contemporânea da Madeira (Funchal), Fundação PLMJ (Lisboa), entre outras.

Curador

Sérgio Fazenda Rodrigues

(PT)

+

Bio

Sérgio Fazenda Rodrigues (Lisboa, 1973) é arquitecto, curador e editor. Foi professor na Universidade dos Açores (2005-2012), na Escola Universitária Vasco da Gama (2013/14) e na Faculdade de Belas Artes, da Universidade de Lisboa (2019/20), dedicando-se actualmente à divulgação, crítica e curadoria de artes visuais. É membro da Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA), tendo participado em 2015 na sua direção, em Portugal.
É o fundador e curador do espaço independente Kindred Spirit, em Lisboa. Com Celina Brás, é sócio da empresa Making Art Happen, que reúne a revista de arte Contemporânea e a APP Portugal Art Guide. Foi assessor cultural permanente do Governo Regional dos Açores / Direcção Regional da Cultura, tendo entre 2010 e 2012 sido responsável pela gestão da Colecção de Arte Contemporânea do Governo Regional dos Açores e pela programação de exposições no Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas. Integrou vários júris de apoio do Governo Português / Direcção Geral das Artes, Governo Regional dos Açores / Direção Regional da Cultura, Ágora - Cultura e Desporto / Câmara Municipal do Porto, EGEAC-Galerias Municipais de Lisboa (Atelier-Museu Júlio Pomar), e da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento. O seu trabalho tem-se desenvolvido de forma independente, em colaboração com instituições, galerias, coleccionadores e espaços independentes em Portugal, Espanha, Bélgica e Inglaterra.